1.19.2007

Da televisão_1



Tenho acompanhado com alguma atenção o concurso “os Grandes Portugueses”.
Sei que este formato teve muito sucesso noutros países, e chegou a Portugal depois de ter sido testado em países mais civilizados e com maior conhecimento da sua história e das personalidade que a compõem.

Contudo, parece-me que o formato está completamente desenquadrado da realidade Portuguesa. Diria mesmo mais, o formato é desinteressante e até de alguma forma deselegante para com a nossa tradição.

Se há passatempo em Portugal que foi elevado à categoria de arte, e no qual nos temos vindo a aperfeiçoar é sem dúvida o mal dizer. Nada é tão prazeroso e agradável, passatempo salutar para toda a família, como devassar a vida alheia, com base em pressupostos morais e éticos criados ou recriados apenas para o efeito.

Qualquer Frase começada com “diz-se que” imediatamente enceta este desporto nacional, e pouca gente é imune ao prazer de acrescentar um facto ou uma opinião.

Mesmo os que não gostam de dizer mal dizem mal dos que gostam de dizer mal. Toda a gente critica ou ridiculariza a porteira que mantém a porta permanentemente aberta e a cada toque de campanhia vem “só para ver quem é”.

Desta forma, acho sinceramente que para Portugal o formato deveria ser transformado em “os Piores Portugueses”. Nada faria mais pelo conhecimento geral da nossa história.

Consigo imaginar o frenesim em busca dos velhos manuais de história, na louca corrida aos podres das personalidades de outrora. O esgrimir de argumentos, a escola de conhecimento cientifico do amigo do primo da senhora que lhe limpava a casa versus o conhecimento empírico do dono da pastelaria onde o senhor bebia amiúde a bica e pedia o invariável segredo associado a qualquer facto que se quer rapidamente divulgar.

Não tenho a mínima dúvida que mesmo com esta alteração a lista final poderia manter-se a que foi divulgada no domingo passado, mas o envolvimento popular seria sem dúvida muito mais efectivo.

Antecipo já claques organizadas pelo país, com recurso à internet, ao sms ou mesmo à pagina de anúncios pessoais da Ana +Atrevida, apenas para defender a sua personalidade que era mesmo mesmo a pior de todas, com argumentos tão convincentes como:

- porque bateu na mãe e matou os mouros, para além de ainda roubar aos primos e aos tios;
- porque comeu mais criancinhas ao pequeno almoço e tinha as sobrancelhas grandes;
- porque para alem de torturar e prender mais gente ainda dormia com a empregada;
- porque descobriu mais terra só para escravizar mais gente, comia com as mãos e deixou-se enganar pelos espanhóis;
- porque se ele não tivesse descoberto o caminho marítimo para a Índia, o Martim Moniz ainda era nosso e desconfio que tanto tempo no mar devia ser maricas;
- porque para além de nunca ter percebido bem que só podia ter um nome, passava a vida em cafés, era bêbedo e morreu de cirrose;
- porque diz-se que foi ele que encomendou o terramoto e o maremoto e tinha um ar um bocado apaneleirado com aquela cabeleira manhosa;
- Porque diz-se que foi para Sagres só para ficar mais perto das discotecas em albufeira e ainda inspirou o padrão dos descobrimentos;
- Porque inferniza todas as gerações de portugueses com a pessegada dos Lusíadas, que nem bonecos tem;
- Porque apesar de ajudar os judeus, o que enfraquece a sua candidatura, era emigrante em frança, e não comprou um mercedes branco nem foi ao concerto do Tony Carreira no Olympia.

Posto isto, peço sinceramente á RTP que, em nome da cultura e do serviço público a que nos tem habituado nos últimos cinquenta anos reconsidere a alteração do Formato. E já agora inclua também na votação a apresentadora e alguns dignos defensores das personalidades em causa.

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